Conheci recentemente uma mulher encantadora - alta, morena com os seus belos olhos, azuis, claros e dois, duma elegância atroz e atrás também e com uma boca - e, consequentemente, um sorriso - enorme e rasgada no sentido literal da palavra, uma boca imensa na sua horizontalidade tipo a do ex-cowboy gay e ex-vivo Heath Ledger no papel de Joker, uma boca prometedora dos maiores malabarismos sexuais...
Mas divago. A situação é a seguinte: após algumas semanas dum assédio light mas ao mesmo tempo insistencialista - e, saliente-se, bem recebido -, decidi oferecer-lhe música. Um modesto CD. Ela aceita de forma acabrunhada e diz:
- "Sabes, eu não costumo ouvir música..."
- "Não costumas ouvir música? Isso é um crime!"
- "Também achas um crime se a pessoa não ouvir música por ter uma deficiência auditiva?"
...Pois foi então que descobri que ela ouve através dum aparelho (do qual nunca me apercebi) e que só conseguia falar comigo por só se conseguir centrar numa fonte emissora de som de cada vez - o que justifica o porquê de "não costumar ouvir música"...Que fazer depois deste faux-pas? Convidá-la para um concerto de hardcore na esperança de que consiga ouvir alguma coisa? Procurar uma bela menina invisual e convidá-la para ir ao cinema... assistir ao "Ensaio sobre a Cegueira"?Vivem-se tempos estranhos e eu... estou algo confuso!
Atenciosamente,
Alcides Tróia
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Caro Alcides,
Com todo o respeito pelos deficientes auditivos - o meu avô era deficiente auditivo - essa história é, possivelmente, a mais engraçada que me apareceu aqui desde a criatura que tinha caspa nas sobrancelhas. Eu sou a raínha dos faux-pas e, se não fosse o risco de ferir susceptiblidades, até contava aqui no blogue.
Acho que agora devia ir a uma aula de LGP (Língua Gestual Portuguesa) - eu sei que tem possibilidade de fazer isso - e aprender a convidá-la para ir ao cinema e, sim, ver o "Ensaio Sobre a Cegueira". A banda sonora não é grande coisa...
Tente não desafiar uma paraplégica para dançar a Macarena.
Beijinhos
Tia Manana